29 de junho de 2025, As Interpretações Erradas e Perigosas da Minha Mente
A afirmação de que "nós não usamos nem dez por cento da capacidade do nosso cérebro" é daqueles tipos de afirmação que nós gostamos de acolher em nosso coração. Parece muito agradável aos nossos ouvidos saber que nós temos uma "capacidade extraordinária inexplorada", e nem nós mesmos sabemos como usar essa potência escondida dentro de nós.
Gostamos dessas afirmações elogiosas que nos adulam e nos fazem sentir bem, ainda que não pratiquemos nenhuma atividade muito intelectual na nossa rotina diária. Gostamos de achar que temos uma besta fera cheia de inteligência e esperteza dentro de nós e que só não soltamos ela para o mundo porque somos bonzinhos demais para soltar esse bicho à vista de todos.
Vez ou outra damos os nossos pitacos em assuntos que não gastamos nem uma única hora para ler sobre. Tomamos decisões de apoiar ou combater baseados única e exclusivamente neste nosso sentimento interior de certeza.
Alguns minutos de pesquisa na internet, que eu carinhosamente gosto de chamar a internet de Biblioteca de Alexandria Vitaminada --, e com ajuda de agentes de IA, e achamos a verdade: William James, considerado um dos fundadores da psicologia moderna, nunca disse que nós "não usamos nem dez por cento do nosso cérebro". O que aconteceu foi que, como era de se esperar, escritores de livros de autoajuda como Dale Carnegie e palestrantes da mesma área como Lowell Thomas que interpretaram de outra forma uma afirmação de William James sobre o potencial inexplorado das nossas capacidades, disse James: "[...] estamos fazendo uso de apenas uma pequena parte de nossos recursos mentais e físicos."
Eu também sou culpado de ter reproduzido esse afirmação de que usamos "apenas 10% do cérebro". Quantas vezes eu já não disse isso me achando muito inteligente.
Lendo em Gênesis 3 a serpente numa conversa muito eloquente com Eva, compreendo onde está a raiz dessa mania nossa de reinterpretação errada, tendenciosa e maligna. Somos seres carentes da presença confortadora e elucidativa de Deus, culpa nossa, nós que nos afastamos dEle. E claro que, uma vez longe, caímos mais facilmente nas armadilhas da nossa mente.
Eva usou seu livre arbítrio para escolher reinterpretar uma afirmação tão cristalina: "Coma à vontade dos frutos de todas as árvores do jardim, exceto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Se você comer desse fruto, com certeza morrerá" Gênesis 2:16,17. Mas Eva deu um toque especial à simples e concisa ordem de Deus, e, na tentativa de parecer mais real que o Rei, disse pra serpente: "É só do fruto da árvore que está no meio do jardim que não podemos comer. Deus disse: 'Não comam e nem sequer toquem no fruto daquela árvore; se o fizerem, morrerão'." Gênesis 3:3.
"Nem sequer toquem". Olha, não faço ideia do que a serpente pensou nessa hora, mas é muito claro no texto, se as duas criaturas mostraram a autonomia para reinterpretar uma coisa tão simples, é ali o ponto fraco, agora, fica claro pro inimigo, é só fincar a placa: "Atacar neste local --> Orgulho".
Colocando o nosso agente de IA para trabalhar, vamos atrás de coletar na nossa Biblioteca de Alexandria Vitaminada uma definição para esse primeiro comportamento autônomo de Adão e Eva; pois está claro o primeiro problema aqui: eles se acharam no direto que dizer o que Deus nunca disse e o que é pior, com isso, mostrar uma performance de zelo grandioso de obediência.
Com ajuda do ChatGPT vamos formular uma definição aproximada de orgulho seguindo as definições de autores a quem credito muita confiança.
Orgulho é essencialmente a autonomia do coração humano em relação a Deus, manifestando-se na exaltação do eu acima do Criador e da Sua glória.
Jonathan Edwards em uma carta dirigida à uma jovem de 1741, "Instruções sobre como se conduzir na vida cristã", escreve:
"Lembre-se que o orgulho é a pior víbora que está no coração, o maior perturbador da paz da alma e da doce comunhão com Cristo. Foi o primeiro pecado cometido, é o mais difícil de ser erradicado, e fica na base mais profunda de toda construção de Satanás. É o mais oculto, secreto e enganador de todos os desejos; muitas vezes se arrasta para o meio da Fé sem que seja notado, até mesmo, às vezes, sob o disfarce da própria humildade. “Temer ao Senhor é odiar o mal; odeio o orgulho e a arrogância, o mau comportamento e o falar perverso”. (Provérbios 08:13)"
A serpente por óbvio não esperava que nem Eva ou Adão saíssem para reclamar de Deus, mas para inimigo inteligente, um único ponto onde dá pra bater, já é mais do que suficiente, e essa autonomia que Adão e Eva mostraram abriu uma fissura.
Portanto, arrisco afirmar que, pelo menos no que se refere à nossa capacidade de lidar com os dilemas da vida, não é nada salutar sair acreditando nesses incríveis potenciais adormecidos que nós nunca tivemos e nem nunca teremos, se teimarmos em achar isso, negaremos a suficiência de Deus, pois: "[...] Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas..."
Fontes usadas:
Escrituras Sagradas: Gênesis 3
Samford University - Myth: We Only Use 10% of Our Brains "Mito: Usamos apenas 10% do nosso cérebro" - https://www.psychologicalscience.org/uncategorized/myth-we-only-use-10-of-our-brains.html
Afeições do Evangelho - Carta de Jonathan Edwards dirigida a uma jovem – 1741 - https://afeicoesdoevangelho.wordpress.com/2013/07/05/carta-de-jonathan-edwards-dirigida-a-uma-jovem-1741/
Grace Gems - Directions how to conduct yourself in your Christian course (Carta de Jonathan Edwards em inglês) - https://gracegems.org/26/Edwards_letter.htm
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