Chamei de "pensamento alegórico" um dos temas mais importantes a que me dediquei nos últimos anos. Ele nos permite perceber a continuidade entre as últimas etapas do pensamento helenista e o início da modernidade, sem cair nas facilidades das narrativas de ruptura que abundam na literatura histórica e filosófica sobre os últimos séculos. Nascido de um excesso — e não de uma carência — de simbolismo, o pensamento alegórico está na base dos mais diversos modos de afastamento da experiência direta da realidade e da despersonalização dessa experiência. Ele se manifestará seja através de esoterismos pelos quais a substancialidade das coisas se dissolve em supostos sentidos secretos e mais elevados, seja através de ideologias que restringem nossa cognição por meio de analogias cada vez mais limitativas (tudo remeterá ao "capital", p. ex., ou ao "marxismo cultural"), seja através da experiência de avatar que caracteriza grande parte de nossa vivência online e offline no século XXI. O pensamento alegórico sempre dependerá da tradução de uma determinada rede de significados para outra rede cujos nexos de analogia com a primeira são arbitrários. As aulas em que discuto o tema ainda estão disponíveis: Também tratei do assunto, com um exemplo bastante didático, neste texto, que aliás vai dar nas origens do pensamento alegórico: